Um sentimento de piedade deve sempre animar o coração daqueles que se
reúnem sob o olhar do Senhor, implorando a assistência dos Bons
Espíritos. Purificai, portanto, os vossos corações. Não deixeis que
pensamentos fúteis ou mundanos os perturbem. Elevai o vosso
espírito para aqueles a quem chamais, a fim de que eles possam,
encontrando em vós as disposições favoráveis, lançar em profusão as
sementes que devem germinar os vossos corações, para neles produzir os
frutos da caridade e da justiça.
Não
penseis, porém, que aos vos exortar incessantemente à prece e à
evocação mental, queiramos levar-vos a viver uma vida mística, que vos
mantenha fora das leis da sociedade em que estais condenados a viver.
Não. Vivei com os homens do vosso tempo, como devem viver os homens;
sacrificai-vos às necessidades, e até mesmo às frivolidades de cada dia,
mas fazei-o com um sentimento de pureza que as possa santificar.
Fostes
chamados ao contato de espíritos de naturezas diversas, de caracteres
antagônicos: não melindreis a nenhum daqueles com quem vos encontrardes.
Estai sempre alegres e contentes, mas com a alegria de uma boa
consciência e a ventura do herdeiro do céu, que conta os dias que o
aproximam de sua herança.
A
virtude não consiste numa aparência severa e lúgubre, ou em repelir os
prazeres que a condição humana permite. Basta referir todos os vossos
atos ao Criador, que vos deu a vida. Basta, ao começar ou acabar uma
tarefa, que eleveis o pensamento ao Criador, pedindo-lhe, num impulso da
alma, a sua proteção para executá-la ou a sua benção para a obra
acabada. Ao fazer qualquer coisa, voltai vosso pensamento à fonte
suprema; nada façais sem que a lembrança de Deus venta purificar e
santificar os vossos atos.
A
perfeição, como disse o Cristo, encontra-se inteiramente na prática da
caridade sem limites, pois os deveres da caridade abrangem todas as
posições sociais, desde a mais íntima até a mais elevada. O homem que
vivesse isolado não teria como exercer a caridade. Somente no contato
com os semelhantes, nas lutas mais penosas, ele encontra a ocasião de
praticá-la. Aquele que se isola, portanto, priva-se voluntariamente do
mais poderoso meio de perfeição: só tendo de pensar em si, sua vida é a
de um egoísta. (Ver cap. V. nº 26)
Não
imagineis, portanto, que para viver em constante comunicação conosco,
para viver sob o olhar do Senhor, seja preciso entregar-se ao cilício e
cobrir-se de cinzas. Não, não, ainda uma vez: não! Sede felizes no
quadro das necessidades humanas, mas que na vossa felicidade não entre
jamais um pensamento ou um ato que possa ofender a Deus, ou fazer que se
vele a face dos que vos amam e vos dirigem.
UM ESPÍRITO PROTETOR
Bordeaux, 1863
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